Amélia: parte I
Amélia não era um anjo, mas caiu do céu. Essa parece uma cantada romântica muito cafona, mas não é. No caso dela, especialmente ela, era a mais pura verdade. Eu nunca imaginei que um dia veria minhas crenças desabando diante dos meus olhos. Pensei que o universo fosse um gigante e eterno vazio congelado, sem outras vidas por ai. Estava enganado. A magia não era uma invenção dos contos de fadas. Era a realidade. A realidade que invadiu nosso mundo.
Quando começou? Ah, isso mesmo. Foi na virada de ano para 2012...
— Eu tô dizendo, o mundo vai acabar! — Disse meu amigo Lucas pela trigésima vez.
— Sim. — Concordei superfluamente — Então coma seu hambúrguer, porque será o seu último.
Entreguei o pedido dele com um sorriso zombeteiro e voltei para o barracão. Faltavam poucas horas para o ano acabar e eu ainda precisava terminar meu trabalho. Infelizmente, férias são para poucos. Eu não estava incluído entre eles.
— Comida. — Escutei a voz feminina enquanto ponderava cabisbaixo.
— Olá, sim, só um momento. Poderia dizer — qual é o seu pedido?...
Não consegui concluir minha pergunta. A mulher mais bela que eu já havia visto na vida estava parada bem ali, encarando-me com seus olhos dourados como o sol do meio-dia. O cabelo loiro caiu sobre os ombros delicados, que atraíram meus olhos para vagar até seu robe de mago. Robe?
— Comida.
A voz dela me atraiu novamente, e ergui o olhar apressadamente. Percebi o descontentamento no olhar dela e minhas bochechas coraram.
— Me perdoe, eu vou preparar algo pra você! — Com a voz gaguejando e a mente em branco, virei para fazer o melhor hambúrguer da minha vida.
Os segundos nunca foram tão longos. Quem era essa mulher? Preparar o pão, virar a carne... Ela era uma modelo?
Pensei no robe de mago. Cosplay?
— Aqui. — Entreguei com um sorriso hesitante, encarando o rosto dela. Notei a orelha pontuda disfarçada pelo cabelo longo e reforcei minha ideia.
Depois de pegar o hambúrguer, a mulher acenou com a cabeça e se sentou em uma mesa afastada. Achei que a aparência dela causaria algum alvoroço, mas logo notei que as pessoas já haviam saído para apreciar os fogos na praia. Suspirei de alívio.
Passei alguns minutos observando-a segurar o hambúrguer, com um olhar perdido, como se não soubesse a maneira de comer. O brilho em seus olhos pelo cheiro era continuamente reprimido pela irritação do tamanho da comida. Ops.
— Moça? — Não resisti sentar perto dela.
— O quê? — Ela me ignorou, encarando o hambúrguer com avidez.
— Que tal afastar o papel primeiro e apertar com cuidado o pão? — Abafei o sorriso crescente e destaquei “com cuidado”.
O conselho fez ela parar por um momento, ponderando. Dois minutos depois, a mulher de cosplay já estava colocando o papel bem dobrado sobre a mesa. Quase não acreditei nos meus olhos. Como uma boca tão pequena comeu tão rápido? E por que ela estava com problema antes se podia comer tão bem?
Senti vontade de externalizar minhas dúvidas, mas me contive. Não era da minha conta. Eu nem sabia porque não fechei logo o barracão e fui ver os fogos. Mas...
— Eu... — O que eu estava fazendo? — Meu nome é Tiago.
Ela me encarou em silêncio. Senti vontade de me jogar de uma ponte por um momento, mas meu impulso crescente só me aproximou cada vez mais dela.
— Qual é o seu nome? — Perguntei com as mãos trêmulas embaixo da mesa. Estava louco?
A mulher me encarou por um tempo, ponderando minha pergunta. Quando pensei em levantar e ir embora constrangido, escutei sua voz soar como uma pena coçando meu coração.
— Amélia. — Observaram-me seus olhos flamejando um brilho peculiar e determinado. — Eu sou Amélia Dwällin, a herdeira do Rei da Floresta... — Ela pausou e permaneceu em silêncio.
Encarei ela por um momento, sem saber se ria ou se entrava em seu jogo. Optei por entrar na brincadeira, mas não imaginava o que aquela “brincadeira” me custaria depois.
Já deixo claro minha indignação por ter sido enganado, como assim ela não é um anjo????
Kkkkkkkkkkkkkkk
Muito cedo pra dizer que eu sinto uma química entre eles dois? 👀